Anomalias significativas e eventos climáticos de junho de 2022.

Por Murilo Soares, Oceanógrafo

A temperatura média global continuou com a tendência notavelmente quente de 2022, já que tanto o mês junho, quanto o ano até agora ficaram em sexto lugar como o mais quente já registrado.

Além disso, o gelo marinho global atingiu mínimos quase recordes no mês passado, com a Antártida tendo sua menor cobertura de gelo em junho já registrada, de acordo com cientistas NCEI (National Centers for Environmental Information) da NOAA (National Oceanic & Atmospheric Administration).

Analisando o clima com alguns números de junho de 2022:

A temperatura média da superfície global (terra e oceano) foi de 0,87°C acima da média do século 20 de 15,5°C, tornando o sexto mês mais quente no recorde de 143 anos.

Junho de 2022 foi o 46º junho consecutivo e o 450º mês consecutivo com temperaturas acima da média do século XX. Desde 2010 foram registrados os dez junhos mais quentes.

Olhando apenas para a temperatura da terra, junho de 2022 foi o segundo junho mais quente do Hemisfério Norte já registrado com 1,56°C acima da média – atrás do recorde de junho de 2021. A Europa e a Ásia também tiveram registrada sua segunda temperatura terrestre mais quente nesse mês.

A primeira metade de 2022 ficou em sexto lugar mais quente, com uma temperatura global de 0,85°C acima da média do século 20 de 13,5°C.

De acordo com as “Perspectivas de Temperatura Anual Global” do NCEI/NOAA, há mais de 99% de chance de que 2022 esteja entre os 10 anos mais quentes já registrados, mas apenas 11% de chance de estar entre os cinco mais quentes.

A atividade dos ciclones tropicais se manteve na média para junho de 2022, que produziu cinco tempestades nomeadas em todo o mundo, o que é normal para junho. Apenas um deles, o furacão Blas no Pacífico Oriental, atingiu a força do ciclone tropical (120 km/h). Embora a tempestade tropical Alex de junho, tenha sido apenas uma tempestade tropical por aproximadamente 30 horas, foi a primeira tempestade nomeada do Atlântico da temporada.

Grande parte da América do Sul experimentou temperaturas próximas das mais frias do que a média normal para o mês de junho, com isso tivemos o mês mais frio desde o ano de 2006.

Texto adaptado de National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) – News & Features de 14/07/2022.

Link da matéria: https://www.noaa.gov/news/june-2022-was-earths-6th-warmest-on-record

Figura 1 – Anomalias e eventos climáticos significativos selecionados: junho de 2022. Fonte: NOAA/EUA.
Figura 2 – Percentis de temperatura terrestre e oceânica junho de 2022. Fonte: NOAA/EUA
Figura 3 – Temperatura média da Terra e do Oceano de junho de 2022. Fonte: NOAA/EUA.

A importância do Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas¹

¹ Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas foi comemorado no dia 16 de março. Esse texto foi feito a pedido de um jornal da região.

Para entendermos o que se refere ao aquecimento global, primeiramente, e depois mudanças climáticas colocaremos duas posições e um pequeno histórico: O Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC) entende que mudanças climáticas são “[…] a qualquer mudança no clima durante um período de tempo, independente se for uma variação natural ou o resultado de uma atividade humana”. (IPCC/ONU, 2007, p. 3). Ayoade em seu livro Climatologia para os trópicos coloca que “Os vários termos usados para descrever as variações no clima, a saber, a variabilidade climática, flutuações climáticas, tendências climáticas, ciclos climáticos e mudança climática referem-se a algumas escalas apropriadas de tempo e somente podem ser válidos quando usados dentro de tais escalas temporais”. (AYOADE, 1988, p. 206). Posto isso, a temática de mudanças climáticas se sobressaiu a discussão de climatologistas e meteorologistas, tornando-se de interesse público, econômico e político. Essa discussão toma forma com a criação do Fórum mundial para Mudanças Climáticas em 1988 pela Organização Mundial de Meteorologia/Organização das Nações Unidas (OMM/ONU). Consegue mais força e abre mais o leque com a ECO 92 no Rio de Janeiro em 1992. Depois com a criação da Conferência da ONU sobre Mudanças Climática (COP). Sendo a primeira, COP 1, realizada em Berlim de 1995. Na COP 3, em Kioto, Japão (1997) foi assinado por diversos países, no qual o Brasil também foi signatário, o compromisso de redução das emissões. Depois a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+10 ou Cúpula da Terra II) em Joahnesburgo, África do Sul, em 2002. A COP 21 realizada em Paris, França, em 2015 teve como objetivo firmar compromissos ambiciosos em relação a redução das emissões, desmatamento, crédito de carbono, entre outros. Contudo, apesar da boa vontade política de alguns atores, especialmente a Europa, houve poucos avanços, e isso vem ocorrendo a cada COP. A próxima será a COP 26 em novembro, em Glasgow, Escócia. Toda essa discussão se dá pela possibilidade de mudanças climáticas mais drásticas em futuro próximo, com sérios riscos a preservação da vida, da economia e de governos. Os riscos são os mais variados, como mudanças dos climas, afetando a produção de alimentos, desastres naturais, perdas ou transformações de biomas etc. Na última década observamos um aumento nas temperaturas do nosso planeta. Boa parte dos cientistas já afirmam que se trata das mudanças climáticas. Com esse aumento da temperatura já observamos chuvas mais fortes, mais concentradas, com tempo severo associado (tempestades). Além disso temos secas mais persistentes, fora da época, que traz um estresse grande para a produção da alimentos (agricultura, pecuária etc.), bem como, a alguns biomas com queimadas, entre outras. O aumento da temperatura também aumenta o número de pragas, como dengue, febre amarela, para citar somente algumas. Qual a solução? Não tem resposta fácil. A solução passa por várias mudanças de postura da sociedade, modos de produção, consumo, políticas multilaterais internacionais, compensação, e mais um grande rol de ações. O importante é começar com pequenas coisas. Recicle, consuma menos, se puder ir a pé, vá. Apoie e incentive a conservação de remanescentes florestais. Procure conhecer e preferir produtos que sejam fabricados de forma mais sustentável. Apoie agendas políticas para um desenvolvimento mais sustentável. Pense no futuro, no futuro das novas gerações, seus filhos, netos. Se sensibilize, vale a pena! Afinal, e por enquanto, esse planeta, é o único lar que temos.